A mãe de Yasmin Micaelli da Silva Santos, jovem que morreu com a filha recém-nascida, no Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Pilar, acusa o hospital de negligência. Flávia da Silva, de 31 anos, diz que a ambulância enviada para atender à gestante não era equipada e fez críticas ao atendimento médico e à estrutura da unidade hospitalar.
“A ambulância chegou rápido, só que eles mandaram a ambulância errada. No momento em que eu liguei para a atendente, eu disse que minha filha estava grávida de 9 meses e estava tendo crise de epilepsia. Eles mandaram uma ambulância pequena, sem paramédico, sem enfermeiro, sem nada, só com o motorista e um ajudante para colocar dentro. A todo momento até a chegada ao hospital, eu que estava acalmando a minha filha das crises que dava nela”, disse Flávia ao TNH1.
Yasmin tinha 16 anos e faleceu na terça-feira, 7, após ser transportada por ambulância do município até o Hospital Nossa Senhora de Lourdes e Maternidade Dr. Armando Lages. O hospital alega que Yasmin chegou convulsionando e com elevada pressão arterial.
Em nota enviada à imprensa, o hospital afirmou que “prestou a devida assistência à gestante, que já chegara ao hospital convulsionando, com elevada pressão arterial, e, segundo relatado pela mãe da mesma, há dias – desde o sábado (04/03), incluindo o domingo (05/03) e a segunda-feira (06/03) – a paciente apresentava fortes dores de cabeça, sendo medicada em casa com remédios para tratar enxaqueca”. A mãe negou a informação e rebateu afirmando que Yasmin apresentou dor de cabeça apenas na madrugada do dia em que morreu.
“Ela tinha pressão ótima, não teve pressão alta no pré-natal. Não dei entrada em hospital nenhum dizendo que minha filha estava sentindo dores de cabeça e nem minha filha chegou morta. Ela não chegou, ela chegou viva. Ela só não falava, mas chegou viva”.
Segundo Flávia, houve demora em relação ao atendimento. “Eles enviaram ela para a sala de pré-parto, colocaram ela no oxigênio, que já era para ela ter saído daqui no oxigênio. Na hora do medicamento, a enfermeira foi buscar e quando chegou lá disse que o armário estava trancado. Ela falou com o doutor, que perguntou quem estava com a chave. O responsável pela chave não estava. Nisso, o doutor começou a ligar para o HU (Hospital Universitário) para falar que a paciente do Pilar ia para o HU. Foi quando começou a dar crise nela de novo. Eu comecei a gritar, consegui acalmar ela, mas a minha filha estava ficando roxa. Meu coração apertou e eu sabia que minha filha não estava mais viva. Para chegar o equipamento da sala da cirurgia até a sala do pré-parto a demora foi grande. Quando colocaram aquele negócio para saber as batidas do coração, minha filha não tinha mais batidas. Mas ao mesmo tempo uma enfermeira botou para escutar o coração da neném, e o coração da minha neta estava batendo. A última crise de epilepsia que ela teve, ela partiu, mas a minha neta ainda estava viva”, relembrou a mãe emocionada.
Flávia contou que foi retirada da sala na hora em que a equipe médica decidiu fazer o parto para tentar salvar a bebê. “No momento em que eles me colocaram para fora da sala, não acompanhei o parto, não vi minha neta nascer. Foi um custo para poder ver o corpo delas duas, foi demora. Quando cheguei lá, minha filha estava toda gelada, mas minha neta não estava (gelada), ainda estava quentinha, molinha. Fui eu que vesti a roupa, que troquei a roupa dela, pedi para trocar e vestir uma roupinha. Minha filha estava toda coberta”.
Flávia, que também é mãe de um menino de 12 anos e uma adolescente de 13 anos, perdeu a filha Yasmin e a neta, que seria registrada como Agatha Mayanne.
“Só quero pedir justiça para minha filha. Não quero que nenhuma mãe passe pelo o que eu estou passando, de jeito nenhum. Eu não durmo, mal como, é medicamento direto, vivo dopada do dia à noite. Tudo na minha casa me faz lembrar minha filha. Quando eu olho para a roupa da minha neta, eu lembro, fico imaginando ela vestida. Isso me dói. O que eu queria era minha filha em casa. Quero que um advogado me ajude com isso, porque como eles dizem que é um hospital atualizado e que tem tudo, eu não vi isso”, Flávia da Silva.
Após o caso, Flávia procurou a Polícia Civil de Alagoas, que abriu inquérito policial nesta semana. A delegada Maria Angelita está no comando da investigação. “Estamos fazendo um trabalho minucioso e temos 30 dias para apurar toda a situação. É um trabalho muito delicado, envolve duas vidas que se foram, duas vidas bastante jovens, a mãe tinha apenas 16 anos e a bebê era recém-nascida”, lamentou Angelita.
O que diz o hospital – “O Hospital Nossa Senhora de Lourdes e Maternidade Dr. Armando Lages vem, por meio da presente nota, esclarecer as informações acerca da afirmação de falta de atendimento adequado à gestante Yasmin Micaelli, 16 anos. O Hospital Nossa Senhora de Lourdes e Maternidade Dr. Armando Lages prestou a devida assistência à gestante, que já chegara ao hospital convulsionando, com elevada pressão arterial, e, segundo relatado pela mãe da mesma, há dias – desde o sábado (04/03), incluindo o domingo (05/03) e a segunda-feira (06/03) – a paciente apresentava fortes dores de cabeça, sendo medicada em casa com remédios para tratar enxaqueca.
Na terça-feira (07/03), uma ambulância do Município de Pilar foi acionada para socorrer a gestante em sua casa, onde a paciente recebeu o devido pronto-atendimento e foi informada pela mãe da gestante que a mesma já havia sofrido um ataque epilético.
Na chegada da gestante ao hospital, dois médicos plantonistas, Dra. Hete Agda e Dr. João Paulo Viana Brito, foram relocados para atender exclusivamente a paciente, agindo imediatamente com todo o suporte de oxigênio e medicação. Também foi convocada a obstreta Dra. Edileide Carlos Amaral, que, ao chegar ao hospital e após avaliar a paciente, constatou o alto risco de morte da paciente, decidindo iniciar a cesariana para salvar a vida da bebê. Após o nascimento, o pediatra, Dr. João Alves de Albuquerque, avaliou a recém-nascida e constatou que ela já estava em sofrimento fetal. Após tentativas de reanimação, a bebê veio a falecer.
O Hospital Nossa Senhora de Lourdes e Maternidade Dr. Armando Lages, após longos dois anos fechado em gestão anterior da Prefeitura do Pilar, teve suas portas reabertas em 2017 pela atual gestão, sendo credenciado SUS e recebendo incentivo da Prefeitura do Pilar para cada vez mais ampliar sua capacidade física e assistencial, tornando-se assim referência nos cuidados em saude de toda a população pilarense.
O hospital reitera o compromisso da transparência e do restabelecimento da verdade e reafirma o correto atendimento assistencial aos pacientes, ao tempo em que lamenta o falecimento e se solidariza com a dor dos familiares e amigos.
Pilar, 11 de março de 2023
Maria Lucinez Cavalcante de Almeida
Provedora do Hospital Nossa Senhora de Lourdes e Maternidade Dr. Armando Lages”.