Ataque do Irã a Israel: quem ganha e quem perde?
- Author, Mahmoud Elnaggar
- Role, BBC News Arabic
O Irã tinha ameaçado dar uma resposta dura ao que disse ser um ataque aéreo de Israel ao seu consulado na capital síria, Damasco, no dia 1º de abril, quando sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana e seis cidadãos sírios foram mortos.
Israel não confirmou a autoria do ataque, mas muitos acreditam que o país esteja por trás.
Ganhos e perdas
O Irã considerou o ataque a Israel um sucesso.
Mas, segundo o pesquisador iraniano e diretor do Centro de Estudos Árabe-Iranianos, com sede em Londres, Ali Nouri Zadeh, a ofensiva não rendeu pontos ao Irã. Ele diz que, pelo contrário, revelou fraqueza no regime iraniano ao não atingir nenhum alvo dentro de Israel.
Para algumas pessoas no Irã, isso expôs o país ao ridículo.
Zadeh acredita que se o Irã tivesse continuado alimentando o que chama de “guerra psicológica”, teria conseguido muito mais.
Por outro lado, Eric Rundtski, pesquisador de Estudos do Oriente Médio no Centro Moshe Dayan da Universidade de Tel Aviv, diz que Israel perdeu ao declarar um estado de alerta elevado. Ele diz que isso gerou ansiedade entre os israelenses e muitos temem uma nova onda de ataques.
Mas diz que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, agora se sente mais poderoso. O ataque ajudou a restabelecer relações fortes com os Estados Unidos e outros países ocidentais, após um período de críticas pesadas.
O pesquisador israelense diz, no entanto, que o país perdeu de outras formas.
Para ele, a ofensiva demonstrou uma falha de Israel em reconhecer a dinâmica de poder do Oriente Médio e em sua incapacidade de impedir o Irã de atacar dentro das suas fronteiras.
Voltando ao ‘abraço’ de outros países
O pesquisador israelense Eric Rundtski também acredita que o ataque do Irã traz ganhos a Israel. E diz que pode servir como um ponto de virada, politicamente, já que Israel desfruta, no momento, e pela primeira vez em meses, do apoio ocidental.
Ele diz que Israel poderia voltar ao “abraço” destes países, especialmente dos EUA, depois de uma tensão sem precedentes nas relações.
Em contraste, o pesquisador iraniano Ali Nouri Zadeh acredita que Teerã perdeu politicamente, interna e externamente. Zadeh diz que o Irã perdeu o apoio dos países vizinhos e também não recebeu apoio de nenhum país. E sublinha que há tentativas de alguns setores de arrastar o Irã para uma guerra direta com os Estados Unidos.
Os dois pesquisadores reconhecem pressões internas sobre ambos os países.
Rundtski diz que há grande preocupação dentro de Israel. Há uma irritação crescente motivada por questões políticas internas, além da guerra, exacerbada pela ausência de progressos recentes na libertação dos reféns ainda mantidos em Gaza.
Zadeh também acredita que o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, enfrenta uma pressão intensa, não apenas nas ruas, mas também por parte de figuras proeminentes do seu regime.
“Há pressão da Guarda [Revolucionária Iraniana] após o assassinato de sete líderes das Brigadas al-Quds por Israel, pois a Guarda está exigindo vingança.”
O general libanês reformado Hisham Jaber – especialista estratégico e militar e diretor do Centro de Estudos Estratégicos do Oriente Médio em Beirute – disse à BBC News Arabic que “a surpresa com relação ao ataque é que ele não foi surpreendente”.
Ele diz que isto se deve ao fato de duas semanas de “guerra psicológica” terem culminado no ataque aéreo, enquanto Israel estava em “modo de pânico”.
Segundo ele, isso causou danos psicológicos e materiais, a instalações, e fazendo muitos cidadãos israelenses deixarem suas casas.
Jaber descreve a “operação” do Irã como uma “mensagem com fogo”, feita para demonstrar sua capacidade de entrar com profundidade em Israel e testar a prontidão das defesas aéreas israelenses.
Ele também acredita que o ataque permitiu ao Irã recuperar um pouco do prestígio político perdido nos últimos anos, ao seguir o que chama de “política de paciência estratégica”, ao mesmo tempo em que o país se beneficiou militar e estrategicamente.
O especialista militar libanês também acredita que o Irã lançou essa enorme quantidade de drones para confundir as defesas aéreas israelenses. Ele ressalta que o Domo de Ferro de Israel não conseguiu sozinho interceptar todos os mísseis e precisou da ajuda das forças dos EUA e da Grã-Bretanha estacionadas em bases no Oriente Médio.
“Se Israel escolher uma resposta militar”, diz Jaber, “pode atingir o continente iraniano com seus mísseis, mas não pode ir mais fundo devido à dura resposta iraniana esperada”.
E acrescenta: “Os aviões israelenses podem bombardear o Irã com precisão, mas precisariam sobrevoar os países árabes – algo que o Irã já alertou contra – ou fazer lançamentos a partir de bases militares dos EUA na região, o que os EUA podem não permitir”.
Mudar o rumo e recuperar a confiança
Fawaz Gerges, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, considera que Israel ganhou mais que o Irã com os ataques de 1 a de abril.
Eles não causaram danos significativos ou vítimas em Israel, e agora todo o Ocidente apoia o país. E diz que os EUA estão tentando mobilizar o apoio ocidental para Israel em termos de armas, cooperação de inteligência e apoio financeiro.
Gerges diz ainda que o presidente dos EUA, Joe Biden, retrata o país como vítima, ao pedir uma reunião urgente dos países do G7 para mobilizar apoio a Israel. “Netanyahu ganhará politicamente depois de desviar a atenção, mesmo que temporariamente, dos acontecimentos catastróficos e hediondos que ocorrem em em Gaza”, acrescenta Gerges.
E ressalta que Netanyahu se beneficiará com o restabelecimento das relações com o Ocidente, especialmente com o presidente americano, Joe Biden, após um período em que os países ocidentais criticaram fortemente o país pelo que ele chama de “atrocidades” em Gaza.
‘Perda estratégica para Israel’
Mas Gerges também vê um lado negativo para Israel, afirmando que o ataque representa uma perda estratégica, que realça a vulnerabilidade do país.
E acrescenta que o Irã ganha politicamente ao mostrar claramente a seu povo, aliados e inimigos a vontade de confrontar Israel.
Gerges acredita que o Irã provou que Israel não consegue se defender sozinho, sem a ajuda dos seus aliados ocidentais, já que os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França e a Jordânia abateram muitos dos mísseis do Irã.
Ele diz que o principal objetivo de Israel em seus repetidos ataques contra o Irã, recentemente, foi mostrar que o Irã é fraco e não se atreve a ir para o confronto. Mas os ataques de 1º de abril abalaram essa visão, segundo ele.
“A região está agora no centro da tempestade”, diz Gerges, com ambos os países prometendo uma escalada.
Ele alerta que a região está no limite político, militar e econômico.