Presidente do BC diz que preços de alimentos devem cair e avalia que dólar não deveria ser um problema
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (3) que a inflação de alimentos, que assustou a população nos últimos meses, deve retroceder e explicou que a intervenção feita no dólar nesta semana foi pontual, para evitar “disfuncionalidades”. Para ele, o câmbio não deveria ser um problema no Brasil.
“Alimentação teve dois ou três meses ruins, teve um ‘payback’ [retorno de uma queda] que foi de dezembro. Mas a gente não acha que a alimentação é um grande problema neste ano. Eu entendo que tem tido assim uma ansiedade, pois a gente teve, principalmente, arroz, feijão, ovos, leites e derivados subindo muito nos últimos dois meses. Mas a gente acha que inflação de alimentos volta a cair”, declarou Campos Neto, em evento do Bradesco BBI, em São Paulo.
De acordo com dados do IBGE, a inflação de alimentação e bebidas, em 12 meses até fevereiro deste ano, somou 2,62% – abaixo do índice cheio de 4,50%. Entretanto, alguns alimentos registraram alta maior neste período. São eles:
Arroz: +30,72% em doze meses até fevereiro
Feijão preto: +20,11%
Batata inglesa: +42,69%
Cenoura: +56,6%
Banana maçã: +14,37%
Cereais, leguminosas e oleaginosas: +21,91%.]
Campos Neto avaliou, ainda, que o Brasil está em um processo de desinflação em linha com o que o Banco Central espera, mas acrescentou que o setor de serviços, fonte de preocupação, tem mostrado uma inflação mais alta.
Decisões sobre a taxa de juros
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o BC faz projeções para o futuro. Se as estimativas estão em linha com as metas, pode reduzir os juros. Se estão acima, pode manter a taxa estável ou até mesmo subir.
Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o primeiro e o segundo semestres de 2025 (em doze meses). Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida.
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 3,75% e, a de 2025, 3,51%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos, mas dentro da margem.
O Banco Central indicou, em seus últimos comunicados, que deve realizar mais um corte de juros em maio deste ano, de 10,75% para 10,25% ao ano. Mas não quis projetar novo corte em junho por conta de incertezas.
Campos Neto afirmou nesta quarta-feira que as metas centrais de inflação serão perseguidas.
“A expectativa de inflação [do mercado] de longo prazo não tem convergido para a meta (…) As pessoas têm incorporado que a meta não é a meta, mas a meta é a meta. Queremos cumprir. A gente entende que é importante perseguir a meta”, acrescentou.
Intervenção no câmbio
O presidente do Banco Central também reafirmou que o câmbio é flutuante no Brasil, ou seja, que o dólar e outras moedas variam (sobem e descem) de acordo com a oferta e demanda.
Ele declarou que a intervenção realizada nesta semana pela instituição, por meio de leilões adicionais de “swap cambial” (venda de dólar no mercado futuro), visou evitar disfunções.
No comunicado, o BC informou que havia “demanda por instrumentos cambiais” por conta do resgate (vencimento) de títulos do tesouro nacional indexados ao dólar. A operação visou manter a proteção aos investidores cujos papeis estavam vencendo.
“A gente entende que o câmbio é flutuante, e que o BC tem de fazer intervenções quando houver disfuncionalidade. Com fluxo forte, e volume de reservas razoável, câmbio não deveria ser um problema no Brasil”, declarou Campos Neto.
O fluxo forte a que o presidente do BC se refere está relacionado com o ingresso de recursos por conta das exportações brasileiras e por investimentos feitos no Brasil. Já as reservas internacionais, consideradas um seguro contra crises no câmbio, estão acima de US$ 350 bilhões.
Mesmo assim, ele avaliou que uma eventual decisão do Federal Reserve, o BC norte-americano, de não baixar os juros a partir de junho – quando o mercado espera o início do processo – pode ter impacto nas moedas ao redor do mundo.
Fonte: G1