Violência: morte de adolescente não-binária após briga na escola comove EUA
A morte de Nex Benedict, de 16 anos, um dia depois de uma briga no banheiro de uma escola de Oklahoma, nos EUA, gerou comoção no país.
O que aconteceu exatamente no banheiro da escola ainda não está claro — e a causa da morte também não foi oficialmente determinada.
Como a investigação da polícia está em andamento, novas informações devem ser divulgadas em breve.
A seguir, contamos o que sabemos até agora.
O que aconteceu na escola?
Nex Benedict se envolveu no que as autoridades chamaram de um “confronto físico” em um banheiro da Owasso High School, em 7 de fevereiro deste ano.
De acordo com a polícia e a escola, a briga foi apartada por outros estudantes que estavam presentes, com o auxílio de um funcionário da instituição de ensino. A escola disse ainda que os alunos ficaram no banheiro por menos de dois minutos.
Imagens das câmeras de segurança mostram que Benedict foi capaz de andar pelo prédio após a briga. A escola decidiu que não era necessário chamar uma ambulância, segundo as autoridades, mas a enfermeira recomendou que Benedict se submetesse a mais exames “por precaução”.
A mãe de Benedict, Sue, chamou a polícia ao hospital naquele mesmo dia — e lamentou o fato de a escola não ter alertado as autoridades sobre o incidente.
Nas imagens captadas pela câmera corporal usada pela polícia durante a interação no hospital, Benedict aparece como uma pessoa acordada e alerta, recostada na cama com os braços cruzados e contando o que aconteceu.
Benedict disse que foi alvo, junto a seu grupo, da implicância de três meninas “por causa da maneira como nos vestimos”.
O deboche teria continuado no banheiro – com as agressoras supostamente perguntando “por que eles riem assim?”. Benedict respondeu jogando água nas meninas, segundo relato feito à polícia.
Depois, “todas as três vieram até mim”, acrescentou. Seguiu-se uma briga, e Benedict disse que apanhou no chão até “apagar”.
A secretaria local de ensino declarou que a morte de um aluno é “devastadora” — e afirmou estar comprometida “com um “ambiente seguro e inclusivo para todos os estudantes”.
Afirmou ainda que estava cooperando com a investigação, em meio a “especulações e desinformação em torno do caso”.
Como Benedict morreu?
Ainda não está claro como Benedict morreu. De acordo com comunicado da polícia, paramédicos foram enviados à casa da vítima para atender a “uma emergência médica” no dia seguinte à briga, em 8 de fevereiro.
No telefonema para acionar a emergência – cujo áudio também foi divulgado pela polícia –, Sue disse que a respiração de Benedict estava difícil e seus olhos estavam revirados.
“Espero que isso não esteja relacionado à cabeça dela”, afirmou a mãe. “Eles deveriam tê-la examinado bem.”
Mais tarde, Sue explicou em uma postagem online que ainda estava se acostumando a usar os pronomes neutros que Benedict preferia adotar.
Os paramédicos realizaram uma reanimação cardiopulmonar antes de levar Benedict às pressas para o hospital – onde acabou morrendo.
Em comunicado enviado à rede americana NBC News, um advogado que representa a família de Benedict chamou a atenção para o que descreveu como “os efeitos devastadores do bullying e da violência nas escolas”.
Ele classificou a morte de Benedict como uma uma “tragédia evitável”.
“A Família Benedict convoca todas as autoridades escolares, locais, estaduais e nacionais para unirem forças para determinar por que isso aconteceu, para responsabilizar os envolvidos e para garantir que isso nunca aconteça novamente.”
De acordo com o comunicado mais recente da polícia, informações preliminares da autópsia indicam que Benedict “não morreu em consequência de um trauma”.
A polícia acrescentou que não faria mais comentários até receber os resultados dos exames toxicológicos e de outros testes. O relatório oficial da autópsia será divulgado posteriormente.
A escola não confirmou se Benedict sofreu bullying por causa de sua identidade de gênero, mas disse em comunicado à rede americana ABC News que “qualquer forma de bullying é inaceitável”.
“Levamos muito a sério as denúncias de bullying e temos políticas e procedimentos em vigor para lidar com esse tipo de comportamento”, acrescentou.
Qual foi a repercussão?
A morte de Benedict gerou comoção em todo o país. Duas vigílias foram realizadas em Oklahoma na noite de sexta-feira — e havia mais de uma dúzia programadas para esta semana em outras localidades.
Uma campanha online de arrecadação de fundos, lançada para cobrir os custos do funeral, angariou mais de US$ 150 mil. Em uma mensagem de agradecimento, Sue Benedict disse que não esperava “o amor de todos”.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karen Jean-Pierre, classificou a morte de Benedict como “uma tragédia”.
“Toda criança deveria se sentir segura e protegida quando for à escola”, acrescentou.
O grupo ativista Freedom Oklahoma afirmou que os fatos envolvendo o incidente ainda estavam sendo estabelecidos, mas que os membros da comunidade LGBT vinham sendo alvo de uma hostilidade cada vez maior, “alimentada pela lei estadual e pela retórica em torno dela, palavras e ações de nossas autoridades estaduais eleitas”.
Os ativistas criticaram as leis de Oklahoma que proíbem estudantes de usar banheiros e vestiários de escolas que não correspondam ao seu sexo atribuído no nascimento.
Ryan Walters, superintendente das escolas públicas de Oklahoma, disse ao jornal americano New York Times que a morte de Benedict foi uma tragédia, mas reafirmou a sua visão da identidade de gênero.
“Não existem vários gêneros. Existem dois. Foi assim que Deus nos criou.”
Os telefonemas do estado para o Rainbow Youth Project USA – uma central de atendimento para jovens LGBT em crise – aumentaram mais de 500%, informou o diretor da organização à agência de notícias AP.