Inflação é resultado de mais recursos na economia, e controle requer 'paciência', diz diretor do BC
Diogo Guillen afirmou ainda que, em um momento de juros elevados, desaceleração do crédito bancário é esperada. Ele participou de evento transmitido pela internet nesta terça-feira. O diretor do Banco Central Diogo Guillen durante audiência no Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou nesta terça-feira (28) que a inflação brasileira é um problema de demanda, ou seja, da maior quantidade de recursos na economia.
Por isso, na avaliação do diretor do BC, a política monetária (definição dos juros básicos) deve atuar de “forma contracíclica”, com aumentos, ou manutenção da taxa Selic em patamar elevado. O objetivo é tentar frear a inflação.
“A gente procurou explicar o processo [de definição dos juros para conter a inflação]. Acho que é um processo, um processo que requer paciência, serenidade para avaliação de todas as defasagens da política monetária [um aumento da taxa de juros demora de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia]”, acrescentou ele.
Em reunião realizada na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, colegiado responsável por fixar a taxa básica de juros da economia, manteve a taxa Selic estável pela quinta reunião seguida em 13,75% ao ano, o maior nível em mais de seis anos.
Naquele momento, o BC também deixou a porta aberta para novos aumentos de juros no futuro. O teor do comunicado foi considerado “preocupante” pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Entre as incertezas consideradas pelo Copom, está o aumento de gastos públicos para custear programas de transferência de renda e recompor o orçamento de áreas como saúde e educação.
Preocupados com o aumento da dívida brasileira, analistas têm cobrado compensação dessa alta de despesas.
O BC, autônomo, é comandado por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O patamar dos juros brasileiros tem sido criticado reiteradamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo.
Mais cedo nesta terça-feira, o BC divulgou a ata da última reunião, na qual avaliou que o chamado “arcabouço fiscal”, ou seja, uma nova regra para as contas públicas, pode facilitar o a queda da inflação no país se for “sólida e crível”.
O arcabouço fiscal que está sendo elaborado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é uma nova regra para limitar os gastos públicos federais e, se aprovado pelo Congresso, deve substituir o atual “teto de gastos”. A proposta ainda não foi divulgada.
Copom mantém Selic em 13,75% ao ano pela 5ª vez
Impacto do juro no crédito bancário
O diretor do BC, Diogo Guillen, também afirmou, em evento promovido pelo Goldman Sachs Brasil, que desaceleração do crédito é esperada com a subida dos juros.
Segundo ele, isso “faz parte do processo de condução da política monetária [elevação da Selic para conter a inflação] ao longo desse ano”.
Guillen questionou, porém, se o crédito vai desacelerar mais do que o esperado dado o tamanho do aumento da taxa Selic pelo Banco Central.
O diretor observou, também, que está havendo uma mudança na composição do crédito buscado por pessoas físicas, mais centrado em linhas de crédito de fácil aprovação, com taxas mais elevadas e que costuma gerar mais inadimplência.
Relatório de acompanhamento fiscal da Instituição Fiscal Independente (IFI), publicado em 15 de março, mostra que linhas de crédito consideradas “ruins” e “caras” foram as que mais cresceram em janeiro deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou recentemente que a área econômica do governo, em conjunto com o Banco Central, está concluindo medidas para melhorar o ambiente do crédito na economia.
Fonte: G1