Videogame: como foi criado o 1º da história, há 50 anos
- Author, Myles Burke
- Role, BBC Culture
“Aqui está uma ideia nova dos Estados Unidos que transforma sua televisão em um jogo que duas pessoas podem jogar”, anunciou o simpático apresentador Raymond Baxter (1922-2006). Ele mostrou ao público britânico o primeiro vislumbre de um aparelho que daria início a uma indústria multibilionária.
Em um episódio do programa da BBC Tomorrow’s World (“Mundo do amanhã”, em tradução livre), transmitido 50 anos atrás, Baxter demonstrou o funcionamento do primeiro console de videogame doméstico do mundo – o Magnavox Odyssey.
A invenção era o sonho de criança do engenheiro alemão naturalizado americano Ralph Baer (1922-2014). Ele estudava a ideia de jogos interativos na televisão desde os anos 1960.
Com o auxílio de uma pequena equipe, Baer desenvolveu diversos protótipos de consoles, até apresentar o Odyssey, pegando desprevenido o público americano em 1972, um ano antes do programa da BBC.
O console consistia em uma caixa alongada que podia ser conectada a um aparelho de TV. Ao console, eram ligados dois controladores retangulares com botões, que os jogadores giravam para controlar o jogo.
Pelos padrões atuais dos games, o Odyssey era muito básico. Ele não tinha sons, era alimentado com pilhas e não registrava o placar do jogo – os próprios jogadores precisavam contar os pontos que marcavam.
De volta para o futuro
Os gráficos também eram primitivos. O Odyssey só conseguia produzir uma seleção de linhas e quadrados brancos sobre um fundo preto.
Para contornar o problema, a empresa desenvolveu uma série de sobretelas de plástico que podiam ser fixadas na frente da tela da TV por eletricidade estática, criando os visuais coloridos do jogo.
O fabricante também criou uma pistola de luz. O apresentador de Tomorrow’s World pode ser visto brandindo a arma de forma levemente ameaçadora para sua oponente durante o programa. A pistola era apontada contra pontos em movimento sobre a tela, em um jogo chamado Shooting Gallery.
Tudo isso pode parecer rudimentar nos dias de hoje, mas a tecnologia – e a ideia de levar jogos de vídeo diretamente para a casa das pessoas – foi inovadora.
Seu projeto simplista e seus gráficos mínimos acabaram sendo seu ponto forte. Como era fácil de entender e jogar, quase todos podiam usar o aparelho. O público ficou fascinado com a novidade de poder controlar um jogo no seu próprio aparelho de TV.
O apresentador da BBC Raymond joga tênis no primeiro console de videogame doméstico da história. “Wimbledon, aqui vamos nós.”
O Odyssey fez com que Ralph Baer se tornasse pioneiro no conceito de videogames domésticos. Ele preparou o terreno para o fenômeno cultural que explodiria anos depois, moldando a trajetória de toda uma nova indústria.
O jogo de tênis que Raymond Baxter jogou durante o programa da BBC em 1973 inspirou o jogo de fliperama Pong, da Atari, que fez imenso sucesso em 1972.
Pong imitava a técnica de jogo do tênis de Ralph Baer. Tanto é verdade que a Magnavox processou a Atari e outras companhias importantes de jogos de fliperama pelo projeto e programação dos seus jogos.
Os controles físicos do Odyssey criaram a ideia dos joysticks, enquanto as sobretelas da TV podem ser consideradas o primórdio do conceito de realidade aumentada que passaria a ser predominante em jogos como Pokémon Go.
A influência dos jogos do Odyssey persiste até hoje. Ecos dos seus jogos esportivos, como o futebol, podem ser observados em jogos como Fifa 23. E a ideia do atirador em primeira pessoa, Shooting Gallery, sobrevive em jogos atuais, como Call of Duty.
Mas, mesmo com todas as inovações, o Magnavox Odyssey seria rapidamente superado, devido à alta velocidade do mercado criado por ele próprio.
Poucos anos depois, a Atari deixou o setor de fliperama para entrar no mercado de consoles. Ela logo superou as vendas da Magnavox, seguida pela gigante dos videogames, a Nintendo.
O Odyssey pode parecer a pré-história dos modernos consoles de hoje em dia. Mas as ideias por trás do pioneiro dos videogames domésticos despertaram a imaginação de outros criadores, alimentando o crescimento de uma indústria global que, hoje, tem valor estimado de US$ 384,9 bilhões (cerca de R$ 1,9 trilhão).