Conflito Israel Hamas: a doença que está afetando soldados israelenses em Gaza
- Author, Jeremy Howell
- Role, BBC Verify
Médicos em Israel dizem que alguns dos militares do país que participam da ofensiva terrestre em Gaza estão sofrendo com uma grave doença estomacal chamada shigella.
Acredita-se que ela esteja se espalhando como resultado das más condições sanitárias e dos alimentos na zona de guerra.
Como a shigella se espalhou entre as tropas israelenses?
Vários médicos das Forças de Defesa de Israel (IDF) registraram doenças intestinais graves nas tropas que atuam em Gaza, de acordo com Tal Brosh, diretor da Unidade de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Assuta Ashdod.
Ele diz que identificou a doença como shigella.
Os soldados infectados são isolados e enviados de volta a Israel para tratamento.
Broch diz que uma “causa clara” do surto são os alimentos cozidos por civis israelenses e enviados às tropas em Gaza.
Ele afirma que essa comida pode ter sido contaminada com shigella e outras bactérias nocivas, por não ter sido resfriada durante o transporte ou por não ter sido totalmente reaquecida antes do consumo.
“Quando os soldados desenvolvem diarreia, [as] más condições sanitárias inerentes ao campo de batalha levam à transmissão de pessoa para pessoa”, diz ele.
Broch diz ainda que os soldados só devem receber alimentos secos, como alimentos enlatados, biscoitos, barras de proteína e nozes.
O que é shigella e quais são seus sintomas?
Shigella é um tipo de bactéria. Quando ela entra no corpo, causa uma disenteria chamada shigelose.
- Febre
- Diarreia com sangue ou prolongada
- Cólicas estomacais intensas
- Desidratação
Pessoas com problemas de saúde ou cujo sistema imunológico está enfraquecido por doenças como o HIV podem ter esses sintomas por muito tempo.
Se não for tratada, a shigella pode causar doenças graves e até a morte.
O risco de morte é particularmente elevado quando a bactéria entra na corrente sanguínea. Crianças, pessoas com HIV, diabetes ou câncer e as que estão subnutridas são muito vulneráveis.
Como a shigella se espalha?
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a shigella se espalha “facilmente” por meio do contato direto ou indireto com as fezes de uma pessoa infectada.
Isso pode acontecer como resultado de:
- Comer comida preparada por alguém com shigella
- Água potável contaminada com esgoto
- Contato com objetos de banheiro ou outros itens contaminados com shigella por uma pessoa infectada
- Trocando as fraldas de uma criança com shigella
- Entrar em contato com fezes durante sexo com uma pessoa infectada
A shigella é frequentemente encontrada entre moradores de rua, viajantes internacionais, homens que fazem sexo com homens e aqueles cujos corpos apresentam baixos níveis de imunidade.
Onde no mundo a shigella é mais comum?
O CDC estima que existam entre 80 e 165 milhões de casos de shigella todos os anos em todo o mundo, causando 600 mil mortes.
Em 2022, a OMS afirmou que 99% das infecções por shigella foram encontradas em países de renda baixa ou média.
A maioria das mortes por shigella ocorre na África Subsaariana e no sul da Ásia. Cerca de 60% ocorrem entre menores de 5 anos.
Um estudo feito por cientistas do Instituto Internacional de Vacinas na Coreia do Sul sugere que a shigelose é cem vezes mais comum em países asiáticos como Bangladesh, China, Paquistão, Indonésia e Tailândia do que em países altamente industrializados.
Como a shigella pode ser tratada ou prevenida?
O CDC afirma que a shigella pode ser evitada lavando frequentemente as mãos, por exemplo:
- Antes de cozinhar ou comer
- Depois de ir ao banheiro ou trocar uma fralda
- Antes da atividade sexual
Muitos casos podem ser tratados bebendo bastante água e descansando.
Cinco tipos de antibióticos são eficazes contra a doença.
No entanto, as autoridades de saúde dos EUA identificaram uma cepa da bactéria shigella que é resistente aos antibióticos, chamada Shigella XDR ou Shigella sonnei.
O CDC afirma que, em 2022, 5% dos casos de shigella nos EUA estavam ligados à cepa resistente aos medicamentos. O CDC classificou a situação como “grave ameaça à saúde pública”.
A OMS também registrou um número crescente de casos ligados à cepa XDR na Grã-Bretanha e em toda a Europa desde 2020.