'A qualidade de vida dos mais velhos é terrível', alerta antropóloga sobre novo perfil da população brasileira
Dados do Censo 2022 mostram que o Brasil está cada vez mais velho e a idade média da população passou de 29 para 35 anos. A qualidade de vida dos mais velhos é terrível’, alerta antropóloga
Novos dados do Censo de 2022 divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil está mais envelhecido. A idade média que era de 29 anos em 2010 passou para 35 em 2022.
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, esse envelhecimento da população requer cuidados e mudanças no perfil de administração pública.
“Nós estamos vivendo mais, mas a qualidade de vida dos mais velhos é terrível. Não existem políticas públicas, as próprias famílias não estão preparadas, não existem formas de cuidar desses velhos. Então, eu acho que o Brasil ainda pensa que é um país de jovens, e não é. Nós temos que começar a nos preparar já. Aliás, já estamos muito atrasados”, diz a especialista.
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Veja os principais destaques dos novos dados do Censo 2022:
g1 Censo 2022:Brasil mais velho e mais feminino
A idade mediana do brasileiro passou de 29 anos (em 2010) para 35 anos (em 2022). Isso significa que metade da população tem até 35 anos, e a outra metade é mais velha que isso.
Em 2022, o Brasil também registrou o maior salto de envelhecimento entre dois censos desde 1940. Em 2010, a cada 30,7 idosos (65 anos ou mais), o país tinha 100 jovens de até 14 anos. Agora, são 55 idosos para cada 100 jovens.
Na prática, o dado acima quer dizer que a tendência do país é ter cada vez menos jovens e cada vez mais idosos. A evolução da pirâmide etária deixa isso claro (veja o gráfico abaixo).
O Censo 2022 ainda aponta que a população feminina está aumentando de forma constante no país nas últimas décadas. Hoje, as mulheres são 51,5% dos 203 milhões de brasileiros. Há cerca de 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens (uma diferença de 6 milhões).
Em 2010, o país tinha 96,9 homens para cada 100 mulheres. Em 2022, eram 94,2 homens para cada 100 mulheres.
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Entre 2010 e 2022, houve aumento da idade mediana em todas as regiões do Brasil — mas, mesmo assim, há uma grande diversidade entre as idades dos brasileiros dentro do próprio país.
O Norte é a região mais jovem: 25,2% da sua população têm até 14 anos. A idade mediana da região é também a mais baixa: 29 anos. Em 2010, era de 24 anos.
Já o Sudeste e o Sul são os mais envelhecidos: cerca de 12% dos moradores têm 65 anos ou mais. No Sudeste, a idade média é de 37 anos (a mais alta do país). Já no Sul, é de 36.
Idade mediana dos brasileiros
Além das diferenças entre as regiões, há também uma grande diversidade entre os estados:
A idade mediana de Roraima é de apenas 26 anos, a mais baixa entre todos os estados e o Distrito Federal. O seu índice de envelhecimento também é o mais baixo: 17,4.
Já a mais alta é a do Rio Grande do Sul: 38 anos. O estado também tem o maior índice de envelhecimento: 80,4.
Idade mediana por estado
Os estados com maior proporção de idosos são Rio Grande do Sul (14,1% da população), Rio de Janeiro (13,1%) e Minas Gerais (12,4%).
Já os estados com maior proporção de jovens (até 14 anos) são Roraima (29,2%), Amazonas (27,3%) e Amapá (27%).
Faixa etária por estado
Como é possível ver acima, dois estados se destacam: Rio Grande do Sul (mais velho) e Roraima (mais novo).
Segundo o IBGE, as taxas de fecundidade do Rio Grande do Sul são baixas e já estão caindo há bastante tempo. Em 2010, o índice era de 1,7, ante uma taxa nacional de 1,9.
Além disso, o Censo de 2022 mostra que o RS tem um saldo migratório negativo (ou seja, muito mais pessoas vão embora para morar em outros lugares do que chegam).
Por isso, com menos nascimentos e mais pessoas em idade produtiva deixando o estado, o envelhecimento se acelera.
Já Roraima (a exemplo de outros estados do Norte) tem taxas de fecundidade mais elevadas: 2,6. O IBGE afirma que este indicador elevado está muito ligado à grande presença de populações indígenas no estado, já que elas costumam ter taxas de fecundidade mais elevadas que outros grupos da população.
Há ainda um saldo migratório positivo (com destaque, nos últimos anos, para a imigração de venezuelanos).
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Fonte: G1