Trabalho em equipe não é sempre a melhor estratégia, diz estudo
- Author, Taha Yasseri*
- Role, The Conversation**
Ao longo do século 21, o trabalho em equipe definiu o ambiente de trabalho moderno. Com avanços na tecnologia de comunicação, trabalhar em colaboração se tornou, como dizem os especialistas em gestão, uma forma de aproveitar a “inteligência coletiva”.
A inteligência coletiva é muitas vezes vista como maior do que a soma das suas partes: superior à inteligência individual cumulativa dos membros do grupo. Diz-se que capitalizar isso melhora a precisão das tarefas (encontrar respostas melhores e mais corretas) e aumenta a eficiência das tarefas (encontrar boas respostas mais rapidamente). Isso, por sua vez, leva a uma conclusão mais rápida e de maior qualidade. Em outras palavras, quando trabalhamos juntos, nosso desempenho melhora. Este tem sido um dos principais fatores que moldam as nossas sociedades modernas.
Ao mesmo tempo, porém, tanto as pesquisas como a linguagem popular sublinham os limites inerentes ao conceito. Se o provérbio “duas cabeças pensam melhor que uma” sugere os benefícios da colaboração, o provérbio americano “muitos cozinheiros estragam o caldo” (too many cooks spoil the broth, em inglês) sugere o contrário.
Liderei um estudo recente para verificar se o treinamento e a composição da equipe podem afetar a eficiência das pessoas quando trabalham juntas. Descobrimos que os benefícios da inteligência coletiva podem ser negativamente compensados pelo custo da coordenação entre os membros da equipe.
A dinâmica do trabalho em equipe
Concebemos um estudo experimental utilizando um projeto já existente de ciência cidadã na internet, Wildcam Gorongosa. Os participantes analisam fotos de webcam tiradas no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, para encontrar e identificar espécies e comportamentos animais.
Convidamos 195 membros do público para participarem em nosso laboratório em Oxford. O experimento compreendeu duas etapas: treinamento e depois teste, que eles fizeram primeiro sozinhos e depois em equipes de dois. Eles tinham cinco subtarefas a cumprir: detectar a presença de animais; contar quantos eram; identificar o que estavam fazendo (em pé, descansando, movimentando-se, comendo ou interagindo); especificar se algum jovem estava presente; e identificar os animais entre 52 espécies possíveis.
Dividimos os participantes em dois grupos. Um recebeu treinamento direcionado com imagens semelhantes ao conjunto que seria usado no experimento. O outro recebeu treinamento geral com diversas imagens.
Descobrimos que o tipo de treinamento realmente afetou o desempenho. Para aqueles com formação geral – os “generalistas” – a eficiência melhorou inicialmente, mas depois diminuiu, uma vez testados no conjunto específico de imagens de teste. Em contraste, aqueles com formação específica – os “especialistas” – mantiveram ou melhoraram consistentemente o seu desempenho.
Para investigar o impacto que a dinâmica da equipe teria, formamos três tipos de grupos: alguns com dois especialistas, alguns com dois generalistas e alguns com uma dupla mista.
Surpreendentemente, descobrimos que nem dois generalistas nem um grupo misto tiveram melhor desempenho do que um único generalista trabalhando sozinho. Mesmo dois especialistas trabalhando juntos não se saíram melhor do que um único especialista.
Descobrimos também que, embora ter um especialista num grupo melhorasse a precisão nas tarefas mais complexas, não melhorava a eficiência do grupo. Em outras palavras, a equipe obteve mais respostas corretas, mas demorou consideravelmente mais para fazê-lo. E para tarefas simples, não houve melhoria na precisão por ter um especialista. Em última análise, o tempo que os membros da equipe perderam na coordenação uns com os outros superou o benefício de adicionar um especialista ao grupo.
O que podemos dizer sobre o futuro do trabalho?
Pesquisas já feitas mostram que o mau desempenho em um grupo se deve muitas vezes ao que os psicólogos chamam de “perdas de processo”. A inteligência coletiva de uma equipe pode, por exemplo, ser afetada negativamente por preconceitos sociais e pelo que os cientistas cognitivos chamam de comportamento de “manada”, que pode levar que as decisões coletivas sejam desproporcionalmente influenciadas por alguns membros do grupo que são menos competentes, mas mais confiantes.
Além disso, os psicólogos falam em “folga social” para descrever uma pessoa com mau desempenho porque faz parte de um grupo – quando a pessoa tem a impressão de que outros farão o trabalho sem que ela precise contribuir. Quando um grande número de membros da equipe segue essa estratégia, os esforços combinados da equipe podem ser ainda menores do que a soma dos esforços individuais.
Pesquisas também mostram a importância da aprendizagem social no contexto do trabalho colaborativo eficaz – o que o nosso estudo destaca. O método experimental que implementamos envolveu sessões de formação individuais seguidas imediatamente de testes de trabalho em equipe – isto impediu oportunidades para as pessoas aprenderem através da observação do desempenho dos seus colegas de trabalho e, portanto, foi eliminada uma das vantagens de fazer parte do grupo durante o processo de aprendizagem.
O contexto em que o trabalho em equipe e a colaboração ocorrem é importante, assim como as ferramentas disponíveis para coordenação entre os membros da equipe. Dado que as tecnologias de comunicação pela internet são utilizadas não só para esforços colaborativos voluntários em grande escala, como projetos de ciência cidadã, mas também para trabalho remoto, é importante reconhecer os efeitos potenciais de diferentes abordagens de formação e dinâmicas de equipe.
Quando os membros da equipe não têm a oportunidade de observar outros trabalhadores e colher as vantagens da aprendizagem social, e quando a comunicação é menos eficiente do que as interações presenciais, os custos e benefícios na equação do trabalho em equipe podem mudar.
Nossa pesquisa mostra que isso é ainda mais pronunciado quando se lida com tarefas mais simples que não exigem uma solução criativa e extensa de problemas. Optar por trabalhar individualmente poderia de fato ser uma abordagem mais vantajosa.
A dinâmica do trabalho em equipe – seja no local de trabalho ou no contexto da colaboração voluntária – é complexa. Embora a colaboração ofereça benefícios em contextos específicos, é essencial considerar as vantagens e desvantagens em termos de tempo, precisão e eficiência. A coordenação tem um custo.