Por que Trump cresce na pesquisas conforme se multiplicam processos na Justiça?
- Author, Katty Kay
- Role, Correspondente especial nos EUA
A corrida eleitoral dos Estados Unidos está de ponta-cabeça: o que normalmente estaria em baixa está em alta — pelo menos no que diz respeito aos dois principais candidatos e sua popularidade.
O número de acusações contra o ex-presidente republicano Donald Trump na Justiça continua aumentando, assim como seus números nas pesquisas de intenção de voto nas primárias republicanas e sua pilha de doações.
Já o atual presidente, o democrata Joe Biden, tem o problema oposto: ele não consegue decolar. Não importa o desempenho do país, ele não sobe nas pesquisas de avaliação de governo.
‘Bidenomics’ não empolga os eleitores
Biden está presidindo uma economia que causa inveja em quase todos os países do mundo.
A inflação está caindo (está em 3%, o que é menos da metade da inflação na União Europeia e no Reino Unido), o desemprego também é baixo (3,5%) e os temores de uma recessão estão diminuindo.
Os americanos ainda estão pressionados por altas taxas de juro e por preços que permanecem acima dos níveis pré-Covid, mas o presidente está viajando pelos EUA neste verão (do Hemisfério Norte) lembrando à população que partes fundamentais da sua agenda, como a Lei de Redução da Inflação e a Lei CHIPS (pacote de investimento na produção de semicondutores e chips), impulsionaram trilhões de dólares do governo na economia dos EUA.
Biden não parece estar recebendo muito reconhecimento pela recuperação econômica.
Uma pesquisa recente da Reuters mostrou que 54% dos americanos desaprovam o trabalho do presidente americano — na verdade, um valor alguns pontos pior do que em março, quando uma recessão parecia mais provável e a inflação estava mais alta.
O número atual também é significativamente pior do que os 32% que desaprovavam seu histórico quando ele assumiu em 2021.
A economia melhora, seus números nas pesquisas caem. Boas notícias nem sempre trazem boas notícias.
Parte do problema do democrata é que muitos dos grandes programas de investimentos do governo ainda estão em fase de aprovação.
Funcionários da administração federal com quem conversei esperam que, à medida que o dinheiro for distribuído em projetos em todo o país, o funcionamento “normal” da política seja retomado e as pessoas comecem a ver os benefícios da agenda de Biden.
É por isso que a Casa Branca apelidou seu plano de “Bidenomics”. Mas há um risco nisso. Se a inflação voltar a subir e ressurgir o fantasma de uma recessão, os republicanos terão ganhado um slogan útil para falar dos planos econômicos frustrados de Biden.
Más notícias não são negativas para Trump
Enquanto isso, Donald Trump enfrenta a situação oposta: más notícias não são negativas para ele.
“Se a questão diante dos eleitores é se ‘Trump deveria estar na prisão ou na Casa Branca’, Trump vence.”
Essa foi a mensagem que recebi de um aliado de Trump na noite em que este virou réu na Geórgia, sob a acusação de interferir nas eleições de 2020 no Estado.
Na quinta-feira (24/08), o ex-presidente compareceu a uma prisão no condado de Fulton, na Geórgia, onde foi fotografado em uma mugshot (fotografia de um réu ou de uma pessoa presa).
Sua fiança foi fixada em US$ 200 mil (cerca de R$ 970 mil) e ele deve voltar ao tribunal posteriormente para apresentar sua defesa. Esse é o quarto processo no qual Trump é réu.
Em tempos normais, uma acusação judicial com risco de pena de prisão não pareceria ser uma boa notícia para um candidato presidencial.
Mas aqui está o pensamento contraintuitivo da fonte alinhada a Trump com quem falei: “Na verdade, posso vender isso muito mais facilmente [risco de prisão] do que ‘Biden é ruim e não merece um segundo mandato'”.
É impressionante que as pessoas na órbita de Trump pensem que a situação jurídica do ex-presidente possa ser algo positivo para elas. Impressionante, mas, neste mundo de ponta-cabeça, não é totalmente surpreendente.
Resultados promissores nas pesquisas e as doações para campanha sugerem que os eleitores republicanos preferem Trump, apesar de, ou talvez até por causa dos seus problemas jurídicos.
Os membros da campanha dele apostam que os eleitores em áreas decisivas do país, como os subúrbios de Philadelphia e Milwaukee, ficariam tão horrorizados com a ideia de mandar um ex-presidente dos EUA para a prisão que votariam para colocar Trump de volta na Casa Branca — possivelmente na esperança dele escapar dos problemas legais.
Mas ainda é muito cedo para saber se é assim que os eleitores realmente verão as coisas em novembro de 2024.
Pesquisas recentes mostram que a maioria dos americanos acha que Trump cometeu um crime. A maioria também diz que não votará nele.
“Penso que a equipe dele reconhece o perigo que ele corre neste momento, mas eles querem manter o domínio sobre o Partido Republicano”, diz Anthony Scaramucci, que foi conselheiro de comunicações por um breve período no governo Trump.
“Por esta razão, eles vão mantê-lo na campanha pelo maior tempo possível, mas acho que ele eventualmente desistirá, por conta da pressão na Justiça e da pressão de sua família.”
Isso não é o mesmo que dizer que o eleitorado está entusiasmado com Joe Biden. Não está. Até os democratas questionam se ele está velho demais para concorrer a um segundo mandato.
Uma coisa é certa sobre esta campanha à presidência dos Estados Unidos: ela continuará trazendo episódios extraordinários.