O fascínio e a repulsa pela China que atravessam história do Brasil
Charge de chinês

Crédito, Ângelo Agostini – Biblioteca Nacional

Legenda da foto,

Em charge de 1879, um gigantesco homem chinês é retratado como “o novo sol que brevemente despontará no horizonte”. Ainda hoje, a China é representada como uma ameaça à sobrevivência do Ocidente.

  • Author, Daniel Salomão Roque
  • Role, De São Paulo para a BBC News Brasil

No livro Cartas de um Chinês do Brasil para a China, publicado em 1923, um certo Ho He Dgent discorre sobre os programas de saúde e segurança pública então vigentes em nosso país: “Gastam aqui os governantes dinheiro a rodo sem conta, para evitar que epidemias matem a gente e a população se desfalque. Por isso, há comissões de médicos zelosos e de muito saber, que vacinam, dão injeções, fazem discursos, aconselham”.

Essa guerra contra a morte, porém, ocultaria objetivos menos nobres. “O governo assim o faz para que a gente viva até cansar, pagando sempre tributo, procriando sem medida”, afirma o autor, ferrenho crítico da classe política, a quem acusa de negligenciar um problema ainda mais grave: “Esta moléstia, qual é? O revólver assassino! Essa é a maior pandemia que ceifa as vidas brasileiras”.

Ho He Dgent seria um repórter, correspondente internacional do Tomh-Ha-Pao e do Shanghaian Times, duas publicações chinesas sobre as quais até hoje nada se sabe: “O autor das aludidas cartas conhece sobejamente as coisas do Brasil, e as observa desde há muito”, declara Simão de Mantua, suposto tradutor, nas primeiras páginas do livro. “Não pode, pois, ser um diplomata em missão rápida e passageira pelo nosso país, como a princípio se supôs”.

Mantua é uma figura igualmente nebulosa — trata-se de um pseudônimo atribuído a pelo menos duas personalidades da época, o jornalista João de Sousa Lage e o engenheiro Antônio Gomes do Carmo.

Fonte: Câmara dos Deputados

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